II
Estranhos efeitos
Um dia depois a aula estava por começar e as conversas não haviam cessado ainda quando um grande zunido soou. Impossível prestar atenção ao que falavam. Tampouco se ouviam as palavras do professor. Era um som monótono de alta frequência. A este foram-se adicionando outros timbres. Com a exata duração de uma aula, o "concerto" pareceu acompanhar as palavras dos mestres. Olhei de viés para os outros. Ninguém conseguia se mover. De olhos fixos, pareciam imaginar a presença de alguém ao longe. Da pirâmide o som transgredia os seus crânios.
Esta aula passou como uma tortura para mim, sem que eu pudesse entender o que acontecia. Ninguém pareceu notar o que havia acontecido quando o professor saiu da sala e o som se extinguiu. A essa sessão seguiram outras, até o final do dia, quando todos se encontraram na saída. O pequeno bate-papo sobre um programa de tevê, a despedida. Nada anormal, tudo acontecia como de costume: falaram sobre tudo, mas ninguém comentou o zunido das salas. Pediam-me para não falarmos mais sobre a aula. Decidi ir para casa.
Um bilhete de minha prima dizia: "Tudo pronto na geladeira. Volto à noite. Qualquer coisa, me chama pelo celular. Prima Jucena." Cheguei em casa e aprontei a comida no micro-ondas. Eu não sabia o que sentir e estranhei eu me sentir sozinho. Ninguém além de mim presenciou o que acontecera na escola e em casa, ninguém para falar a respeito.
Depois do almoço entrei no meu quarto e tratei de achar alguma explicação para o zumbido. Meu professor de música, o Mestre Zuya, chegou para minha hora de música às cinco da tarde.
O rádio estava ligado quando Zuya chegou. Prestei atenção a um jingle que não conhecia.
- Legal esse jingle novo, afirmei.
- Você tá louco? Já toca faz mais que um ano, respondeu Zuya.
- Estranho... nunca tinha ouvido.
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