10 de junho de 2011

quantas cores tem o arco-íris?

Na noite em que caiu a chuva torrencial um cachorro corria na rua. Ninguém sabia de quem era,
nem se ele viera dos lados da Lagoa Insólita ou da Rodovia. Uns segundos ia em direção da lagoa,
mas depois virava-se e tomava o rumo da rodovia. Uns poucos o condenaram até, mas estando eles
em direção às suas próprias casas para se salvarem do aguaréu, não passou de uma ou outra frase
sem maior importância, que o cachorro tanto mais soube ignorar, com sua língua à mostra.
Quando também todos os filhos pródigos e transeuntes sumiram, tudo foi tomado pelas águas. O
cachorro decidiu se plantar no meio da rua e aguardar o fim da torrência. Se enrolou em redor de si
e ficou intacto.

Choveu sete dias ao todo. Marquei no meu calendário na terceira noite, quando notei surpreso, que
das paredes de minha casa começavam a transparecer pingos.
Ao final das chuvas, muitos averiguavam os danos causados e poucos viram quando o cachorro
levantou a cabeça, olhou para trás, como se estivesse espreguiçando-se. Depois, primeiro à direita,
depois à esquerda, olhou para os lados. Fora valetas em ambos os lados da rua, por onde o rio da
chuva dos últimos dias correu, nada havia o que avistar. Interessava-se apenas marginalmente por
tudo, quando viram que seus pelos haviam caído durante o chuvaréu. Foi a família Piero que
chamou a atenção de todos para esse fato, fazendo a alegria das crianças. Essas começaram a passar
suas mãos na pele canina e notaram que ele estava não apenas sem pelos, mas também com um
outro tipo de pele, parecendo escamas.

Qual não foi a surpresa de todos, quando o cachorro se levantou e ao espreguiçar-se mostrou que
tinha barbatanas entre os membros e o dorso; e ao receber um prato com água, para beber ele fez
movimentos de boca como de um peixe?

***

"quantas cores tem o arco-íris?" foi escrito em Jena, Alemanha, aos 5 de abril de 2008 e publicado anteriormente no Blog "Udo na Alemanha" deste mesmo Blogspot, assim como também no meu perfil do Orkut entre junho e agosto do mesmo ano. O texto final se encontra hoje no presente blog Umbigo de Pelúcia, publicado em dezembro de 2008 e se chama "O Peixe que uivava".

Nenhum comentário: