O tonel de ferro faz sons: dilata, expande e o gelo dentro de si se solta da parede interior. Também há icebergs a se desfazer da mesma forma em outros tonéis, aquecendo e esquentando, constantemente, nos últimos dias. Os corvos de tocaia sobre a casa aquecem-se ao lado das chaminés sem vapor. Quando o sol atinge o seu brilho máximo no inverno, aquele brilho intenso tinge as penas lustrosas dos corvos, que iniciam suas brincadeiras e picadas inconsequentes na chaminé de ferro.
Saiam, saiam, corvos, gritamos! E eles respondem: saiam, saiam vocês!
Torrões de tinta se soltam dos tonéis e caem nos caibros. O chão e o céu, entre eles nenhum telhado. (Mas há os corvos pretos, desenhos brilhantes de lilás, verde e preto pintados no céu claro.
A água se condensa ao redor dos tonéis e se mistura à tinta. Criam-se poças e rios que confluem. É enchente. O tempo, como numa peça de teatro, não pede licença. E o calor vai degelando.
Os corvos novamente: saiam, saiam.
Então saio com asas ágeis cortando o ar frio pela sombra. Um contemporâneo me diz: aí estás, agora é pra valer, é primavera! E se joga contra mim. Desvio por pouco de sua bicada e golpe. Mas contra-ataco, meio sem jeito, mas com maestria. Faço minhas asas se avolumarem e mexo-as para cima e para baixo. A demonstração de força e tamanho mete medo.
Os corvos, nas chaminés, anunciam o vencedor: eu.
Orgulhoso, tomo meu lugar sobre árvores altas ou chaminés e canto belamente o canto nostálgico do fim da tarde.
BLOG DE PROSA DE UDO BAINGO. PERSONAGENS, TEXTOS, CONTOS, NOVELAS REGISTRADOS NA BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL.
17 de janeiro de 2009
A HISTÓRIA DE UMA GARRAFA DE PÁLINKA
Caminha-se pelo centro de Jena como sem direção certa, quando se procura por algo que não se sabe onde achar. Riel buscava comprar anjinhos de guarda de madeira. Presente de Natal para sua amada.
Encontrou uma loja de produtos de importação da Hungria. Logo o cativou a variedade de vinho lá encontrada e a soberba novidade: a Hungria tinha vinhos secos. Não se tratava de Kadarka doce como os encontrados em supermercados e alguns alemães do leste pouco instruídos bebem por costume. Ao experimentar o cálice de Kadarka - na verdade um copo de mostarda lavado - Riel exclamou "interessante, mas pouco frutuoso", lembrando-se dos vinhos que costumava bebericar nas festinhas de estudantes, geralmente chilenos ou mesmo italianos. Um tanto quanto sórdido até esse Kadarka: uma nota de madeira que não parava de espalhar-se pelas narinas. Entre os dentes ainda sentira alguma fineza, mas depois de sorver o líquido rubro-escuro com tons talvez de rubi, pensou em deixar estar, para perguntar à atendedora o que o licor Unicum teria em comum com o país da Puszta e de Esterhazy. Depois de rápido esclarecimento - Unicum é a bebida mais conhecida do país do Gulasch feito em fogo de acampamento - a senhora mostrou-lhe uma garrafa e serviu-lhe um licor de Páprika húngaro - a própria fruta de Páprika nadava dentro da garrafa com ornamentos.
A presença da senhora o pressionava a se servir. Riel quisera ainda saber se era forte e ela gentilmente lhe mostrou o copo, convidando-o para o gole esclarecedor. Pouco animado, levou o copo aos lábios e experimentou. Doçura veio-lhe no pequeno gole que mesmo assim cobriu por inteiro o céu de sua boca. Estranhou a fragrância frutuosa, embora de uma acidez cada vez mais forte e perseverante - tal qual de uma fruta ainda desconhecida. Depois de provar outro Pálinka, o qual não adocicou tanto o seu palato quanto o primeiro, mistura de um Palatschinken com as coxas duras de uma jovem de Budapeste que um dia desejou. Riel já se ria quando olhou para o relógio. Seis da tarde? Os anjinhos! Despediu-se depois de pagar o Pálinka e saiu da loja com a garrafa embrulhada em papel barato, agora mais alegre: em busca dos tais anjinhos.
Encontrou uma loja de produtos de importação da Hungria. Logo o cativou a variedade de vinho lá encontrada e a soberba novidade: a Hungria tinha vinhos secos. Não se tratava de Kadarka doce como os encontrados em supermercados e alguns alemães do leste pouco instruídos bebem por costume. Ao experimentar o cálice de Kadarka - na verdade um copo de mostarda lavado - Riel exclamou "interessante, mas pouco frutuoso", lembrando-se dos vinhos que costumava bebericar nas festinhas de estudantes, geralmente chilenos ou mesmo italianos. Um tanto quanto sórdido até esse Kadarka: uma nota de madeira que não parava de espalhar-se pelas narinas. Entre os dentes ainda sentira alguma fineza, mas depois de sorver o líquido rubro-escuro com tons talvez de rubi, pensou em deixar estar, para perguntar à atendedora o que o licor Unicum teria em comum com o país da Puszta e de Esterhazy. Depois de rápido esclarecimento - Unicum é a bebida mais conhecida do país do Gulasch feito em fogo de acampamento - a senhora mostrou-lhe uma garrafa e serviu-lhe um licor de Páprika húngaro - a própria fruta de Páprika nadava dentro da garrafa com ornamentos.
A presença da senhora o pressionava a se servir. Riel quisera ainda saber se era forte e ela gentilmente lhe mostrou o copo, convidando-o para o gole esclarecedor. Pouco animado, levou o copo aos lábios e experimentou. Doçura veio-lhe no pequeno gole que mesmo assim cobriu por inteiro o céu de sua boca. Estranhou a fragrância frutuosa, embora de uma acidez cada vez mais forte e perseverante - tal qual de uma fruta ainda desconhecida. Depois de provar outro Pálinka, o qual não adocicou tanto o seu palato quanto o primeiro, mistura de um Palatschinken com as coxas duras de uma jovem de Budapeste que um dia desejou. Riel já se ria quando olhou para o relógio. Seis da tarde? Os anjinhos! Despediu-se depois de pagar o Pálinka e saiu da loja com a garrafa embrulhada em papel barato, agora mais alegre: em busca dos tais anjinhos.
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